Entre a impunidade e a perseguição

por Roméro da Costa Machado, escritor.

Nada define e sintetiza melhor a vida de Roberto Marinho do que o título: "Entre a impunidade e a perseguição", vez que sua vida foi pautada por viver na impunidade, à margem da legalidade e sempre perseguindo aqueles que pudessem estorvar, de alguma forma, o seu caminho.
Como exemplos de impunidade pode-se dizer que escapou ileso de três CPI's (Time-Life, Afundação Roberto Marinho e NEC) sem que as ditas CPI's investigassem o que deveriam. Sobreviveu a escândalos que o levariam irremediavelmente à cadeia, conforme previsto por alguns criminalistas renomados. Conseguiu a façanha de ter em seu curriculum a responsabilidade sobre a venda de carro roubado, obtenção de dinheiro a fundo perdido, obtenção de empréstimos quase gratuitos e verbas governamentais pródigas para sustento de suas empresas. Isto sem se falar nos escândalos da Afundação de caixa dois, notas frias e etc. E, logicamente, o seu vergonhoso enriquecimento paralelo à ditadura militar.
Os exemplos de perseguição são vários, sendo os mais notórios os de: Leonel Brizola, Mário Garnero, José de Paiva Netto e Bispo Edir Macedo.
Em sua sanha alucinada de perseguição a Leonel Brizola, Roberto Marinho deixou o rastro do escândalo Globo/Procunsult da fraude das eleições e a destruição total da imagem do Rio de Janeiro, nacional e internacionalmente. Tudo isso para caracterizar Brizola como um mau administrador/governador. A imagem do Rio foi tão suja e tão denegrida pela Globo que mesmo muitos e muitos anos após a campanha difamatória da Globo contra o Rio de Janeiro, ainda ficaram as marcas, ainda que o Rio não seja tão violento quanto São Paulo (de onde vem a maior parte do dinheiro da Globo), ainda que o Rio não chegue nem perto da violência de Nova Iorque, nem tenha brigadas assassinas como em Roma, terroristas da ETA como em Madrid, ou terroristas como os do IRA em Londres.
Mário Garnero, em determinada época, foi o mais respeitado empresário brasileiro e talvez ainda seja o empresário brasileiro mais conceituado e de maior penetração no exterior, dono de várias empresas, entre elas a NEC e o Grupo Brasilinvest, localizado no melhor e um dos mais caros endereços do Brasil (duas gigantescas torres de edifício na esquina das avenidas Faria Lima com Rebouças). E por Garnero possuir o grande sonho de Roberto Marinho (a NEC), que na época era a grande líder em telefonia, por isso mesmo, sofreu toda sorte de perseguição até vir a perder o controle acionário da NEC, contando com o apoio do Presidente da época (José Ribamar Sarney) e do Ministro da Comunicação (Antônio Carlos Magalhães, "sócio"/parceiro de Roberto Marinho em televisão na Bahia).
José de Paiva Netto, presidente da LBV e da Fundação de Paiva Netto, cometeu o grande "crime" de haver ganho do governo federal a concessão do canal de televisão (26) em São Paulo, o último bom canal disponível e que a Globo tanto queria, no disputadíssimo e ambicionado mercado de São Paulo. E por conta disso sofreu insidiosa campanha difamatória, sendo mostrado como possuidor de quadros famosos (isso é crime?), dono de grande fazenda de gado no centro-oeste (A Globo tem, só entre as fazendas Aruanã e Cocalinho, mais terra do que a dimensão do Rio de Janeiro), e de possuir uma frota de carros importados para seus diretores (Primeiro: Os carros importados eram carros comuns e mais baratos do que os carros nacionais de primeira linha. Segundo: Desde quando é crime ter carro importado?).
Por conta disso, José de Paiva Netto conheceu o inferno em vida, principalmente quando Roberto Marinho desencadeou sistemática campanha difamatória pelo jornal e pela televisão, manipulando e influindo de tal forma nas instituições brasileiras que a curadoria de fundações perseguiu a Fundação José de Paiva Netto ao contrário do que fez com a Afundação Roberto Marinho; as rádios do grupo LBV passaram a sofrer terrível fiscalização e ameaças de fechamento. O canal de televisão 26 foi lacrado mais de uma vez. As empresas de telefonia (de onde vinham as doações pela conta telefônica) deixaram de repassar as doações ao grupo LBV, até sufocar e quase quebrar o grupo inteiro, para finalmente perder o canal 26.
O Bispo Macedo, tão injuriado e perseguido ainda hoje (por conta residual da campanha difamatória da Globo), sofreu toda sorte de injustiça e humilhação, até mesmo uma violenta, terrível e cruel prisão orquestrada pela Globo. Tudo porque o Bispo Macedo havia conseguido um importante canal de televisão em rede aberta (Rede Record) e liderava uma agremiação religiosa (IURD) que se delineava como detentora de um fantástico potencial de crescimento, capaz de assustar terrivelmente a Globo.
Por conta disso, a Globo não só fez feroz e sistemática campanha difamatória (como de hábito) contra o Bispo Macedo e contra a IURD, como criou uma mini-série protagonizada por um pastor canalha, corrupto e devasso para tentar desmoralizar não só a IURD como todo movimento evangélico no Brasil. (A Globo até conseguiu, num primeiro momento, o auxílio de um pastor dissimulado, tal qual Balaão, mas que pelos desígnios de Deus este pastor logo envolveu-se em grande escândalo e acabou caindo em desgraça no meio evangélico, sendo posteriormente abandonado até mesmo pela Globo)
Quatro grandes homens de fibra: Brizola, Garnero, Paiva Netto e Bispo Macedo, a quem eu tive a oportunidade e honra de estar ao lado exatamente nos piores momentos de suas vidas, foram vítimas de sistemáticas campanhas de perseguições insanas de Roberto Marinho, um "homem" em cuja lápide bem que poderia estar a síntese de sua vida: "Viveu alimentando-se de ódio, entre a impunidade e a perseguição".

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