O escândalo do Papatudo

por Roméro da Costa Machado.

Quando surgiu o Papatudo, o jornalista Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa, disse com todas as letras que aquilo cheirava a um grande golpe e que não tinha uma chance em um milhão de dar certo um empreendimento entre Artur Falk (que o Hélio chamava de Artur Desfalk, pelo seu passado negro de tramóias) e Roberto Marinho.
Logo logo, com exclusividade da Rede Globo (impresso no verso dos bilhetes), e apresentação de Xuxa Meneghel (que pedia às crianças do Brasil inteiro para que pedissem aos seus pais que comprassem os bilhetinhos do "titio" Artur Falk ou Desfalk, no dizer do Hélio Fernandes) a Globo, usando os Correios como ponto de venda, no Brasil inteiro, criou o seu "Baú da Felicidade", para concorrer com o Sílvio Santos, do SBT.
Prometiam que, além da recompra garantida, os futuros compradores ainda concorreriam a grandes prêmios milionários e parte da arrecadação ainda seria destinada a instituições de caridade. E numa colossal e obscena "pirâmide" infestaram o Brasil inteiro com promessas milagrosas de enriquecimento fácil, sempre tendo à frente a exclusividade da Globo, a insuspeita Xuxa e a benemerência de instituições de caridade. (Uma espécie de "Criança Esperança", com carnê).
Embalado pelos heróis da Globo e dos "embaixadores" da Unicef, o país inteiro comprou, muitas e muitas vezes, os bilhetinhos do "titio" Artur Falk (ou Desfalk), veiculados pela Globo e apresentado pela irrepreensível Xuxa ("Compra, compra, pede para a mamãe e o papai comprar"). Os Correios vendiam, as lotéricas vendiam, os bobos compravam (como os doadores do Criança-Esperança), até que passado o período para resgate dos "bilhetinhos" milagrosos do "titio" Falk (ou Desfalk) os Correios pararam de resgatar os bilhetes pois não recebiam do Papatudo (Interunion/Globo/etc). Os lotéricos deixaram de resgatar os bilhetes que indenizariam os compradores. E o grande golpe nacional previamente anunciado foi dado nas barbas da nação inteira, onde o mico ficou na mão do povo, que não tinha de quem receber.
Eu e o repórter Saulo Gomes fomos levantar o total do golpe do Papatudo (além do golpe do Hotel Nacional dado como "garantia"). E na "ilha dos lotéricos", em São Paulo, conseguimos do presidente da associação dos lotéricos o acesso ao cofre (e gravamos) montanhas de bilhetes num cofre-forte gigante que mais parecia um bunker, girando em torno de 200 milhões. E vejam bem, os lotéricos não foram os maiores prejudicados, pois ao não receberem pelos bilhetes comprados, pararam de recomprar os bilhetes do povo e estancaram o golpe. Idem os Correios, que ao não receberem pelo bilhetes que os Correios resgatavam das pessoas interromperam a prorrogação do golpe. Mas o povo, que ficou com o bilhete na mão e não tinha a quem recorrer, de quem resgatar, de quem receber, morreu com o mico na mão, num golpe girando perto de um bilhão.
E assim, usando uma grande rede de televisão (Papatudo, exclusividade Rede Globo), uma grande vendedora agindo diretamente no público infantil induzindo a que crianças pedissem aos pais para comprarem (Xuxa), associados ao insuspeito "titio" Artur Falk (ou Desfalk) foi dado um dos maiores golpes - conto do vigário - na população tola, que acredita na Rede Globo, que compra os produtos que ela anuncia, que doa para as "instituições de caridade" abençoadas pela Globo (tipo Criança Esperança).
Pobre população ludibriada que se comove com os trambiques glamourizados da televisão.

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