O Retrato de Roberto Marinho em Preto e Branco

por Roméro da Costa Machado, escritor.

No auge da briga do livro "Afundação Roberto Marinho", em 1988, e nos primeiros anos seguintes, principalmente em razão da CPI contra a "Afundação", desesperadamente abafada por Roberto Marinho para livrá-lo dos possíveis mais de 20 anos de prisão, conforme preconizado pelos criminalistas Paulo Goldrajch e Nilo Batista, uma briga paralela acabou revelando algo ainda mais estarrecedor do que o próprio escândalo da "Afundação". Qual seja, um retrato de Roberto Marinho, de corpo inteiro, em preto e branco, traçado pelo seu melhor e mais antigo e fiel amigo, Armando Falcão, ex-Ministro da Justiça da ditadura militar que abençoou a Globo.
Armando Falcão, amigo fiel e dedicado a Roberto Marinho por mais de 30 (trinta) anos, sofreu a maior das traições de sua vida. Teve seu filho, Guilherme Falcão, dirigente da "Afundação", demitido sumariamente por Roberto Marinho, e também pelo fato de seu irmão, José Armando Falcão estar defendendo a ex-esposa de Roberto Marinho, D. Ruth Albuquerque Marinho, na separação do casal.
Pai ferido, o ex-ministro Armando Falcão, em defesa do filho não poupou em nada o seu ex-melhor amigo Roberto Marinho e traçou um preciso, meticuloso e arrepiante retrato de Roberto Marinho, chamando-o de "desumano, mesquinho, exibicionista, um camelô de si mesmo, campeão da vaidade vã, faminto de fama e caçador insaciável de títulos honoríficos, senil, analfabeto cujos textos que assina são escritos por outra pessoa (Jorge Serpa), doutor entre aspas ("Doutor Roberto") que jamais cursou uma faculdade, não sendo formado em coisa alguma, nem mesmo em jornalismo" (embora obrigue as pessoas a chamá-lo de doutor).
Arrematando o quadro que traçava com fortes pinceladas, Armando Falcão reforça um outro lado do perfil de Roberto Marinho com outros "atributos" do falso Doutor Roberto, como por exemplo usar de todos os meios - lícitos e ilícitos - para conseguir o que queria, construindo a gosto e bel prazer falsas reputações ou destruindo algumas das mais nobres reputações do país, conseguindo, inclusive, abafar todo e qualquer escândalo, até mesmo quando poderia ser preso (como no escândalo da "Afundação"), caso fosse um cidadão comum. E citando as próprias palavras de Roberto Marinho: "Não te mete. Deixa comigo. Sempre ganho as minhas guerras. Hoje, sou tão poderoso que me sinto um homem colocado acima do bem e do mal."
Esta carta duríssima, terrível, datada de 13 de julho de 1989, endereçada a Roberto Marinho, foi postada com cópia para toda a grande imprensa, mas somente a Tribuna da Imprensa publicou-a na íntegra, num primeiro momento. Os demais jornais preferiram aguardar o primeiro impacto da publicação para somente depois publicar parte da carta, ainda assim meticulosamente escolhida a dedo. As revistas de programa (assim como tem garota de programa também tem revista de programa) Vejé e Isto Eja - exatamente iguais, como irmãs siamesas - mantiveram um silêncio sepulcral, exatamente igual ao que vinham mantendo diante dos escândalos da "Afundação".
E encerrando a famosa carta, o ex-ministro Armando Falcão arremata: "Francamente, não sei se valeu a pena você envelhecer tanto para, chegando ao topo da montanha, mostrar-se tão diminuto, tão pequenino, tão minúsculo, tão ínfimo."
Este é o retrato mais perfeito e fiel de Roberto Marinho, em preto e branco, traçado com autoridade e conhecimento de causa pelo seu ex-amigo de mais de 30 anos, o ex-ministro Armando Falcão.

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