Tribunal de contas enterra sonho da Globo

por Roméro da Costa Machado, escritor.

A Globo sonhava em conseguir livrar-se de um passivo de cerca de três BILHÕES de dólares (quase dez BILHÕES de reais) através de articulações políticas em que o BNDES seria usado para socorrer e tirar a Globo do terrível estado de penúria em que se encontra, assemelhado a um torpor pré-falimentar. Aliás, mais do que sonho, esta era a única e toda a esperança da Globo para fugir do desastre empresarial em que se meteu por conta da aventura da tv a cabo, num delírio megalomaníaco de dominar o Brasil através do sistema "a cabo". (Só mesmo um gênio muito incompetente e arrogante para desafiar as regras de mercado mais elementares e supor que iria descobrir a pólvora já acesa e reinventar a roda sem ninguém perceber)
A chamada TV a cabo, por si só já é uma aventura gigantesca, pois não só usa uma tecnologia ultrapassada (cabo), quando a tendência é "wireless" (sem cabo), como ainda tem que contar com a complacência e boa vontade dos governos locais das grandes capitais para facilitar a implantação do caríssimo sistema de cabeamento. Sem falar que em um país gigantesco como o Brasil o cabeamento é absolutamente inviável. E mesmo nas grandes capitais somente três ou quatro delas mostram-se economicamente viáveis. Razão pela qual o sonho da tv a cabo foi o grande delírio que empurrou a Globo ladeira a baixo, arrastando as empresas lucrativas neste sonho mirabolante de arrogância e megalomania. E que somente poderia ser salvo por um ato de misericórdia do governo, jogando dinheiro pela janela, a fundo perdido - o único que poderia colocar dinheiro bom em cima de um projeto tão ruim.
Pois bem, numa decisão histórica, bem recente, publicada no Diário Oficial do dia 13 de novembro de 2004 (êta dia treze bom...), o Tribunal de Contas da União, por unanimidade, simplesmente soterrou e fulminou todo e qualquer sonho da Globo em aproveitar-se do BNDES para tapar seus rombos de má administração e gestão ruinosa.
O relatório publicado no Diário Oficial, que na realidade mais do que um relatório é uma decisão unânime do Tribunal de Contas da União, determina que o presidente do BNDES cumpra uma série de exigências, dentre as quais que o BNDES deverá prioritariamente resguardar os interesses do banco, antes dos interesses de terceiros. Indo mais além, determina o TCU que o BNDES não pode liberar novos recursos na tentativa de recapitalizar a NET, vez que a os recursos devem vir de outra iniciativa que não o BNDES. E como uma pá de cal sobre um corpo agonizante, quase defunto, arremata o Ministro: "O BNDES deve se afastar da participação acionária da NET".
Mais claro e mais cristalino do que isso... impossível.
Não bastasse a clareza da exposição do relatório, quase que como uma maldade, aprofunda ainda mais a questão ao determinar que sejam encontradas soluções imediatas e adequadas para reequacionar as dívidas pendentes da NET, substituindo as operações cujas dívidas estão expressas em dólares americanos (cuja variação de câmbio quase que inexiste, ou quando existe é favorável à Globo, pois o dólar ao invés de subir do patamar de R$3,00 vem caindo dia após dia) para transformar as dívidas em moeda estrangeira em dívida em moeda nacional. Ou seja, ao invés de deixar de pagar por uma dívida cuja variação de dólar está caindo, a dívida passa a ser convertida em reais, pagando-se os altos juros e variações do mercado brasileiro.
Dizer que isso é um pesadelo para a Globo é muito pouco, pois é muito pior, infinitamente pior do que um "simples" pesadelo ou de uma "simples" morte. É assistir, em vida, impotente, e sem nada poder fazer, ao desmoronamento e morte gradativa e gradual de um "império" que até bem pouco tempo parecia inabalável e indestrutível. E ainda ter o que restava de sua credibilidade enxovalhada pela determinação do Ministro ao instruir à unidade de controle externo do Tribunal de Contas da União que "acompanhe toda a operação, usando seu poder de cautela, para evitar qualquer prejuízo ao erário."
Foram-se os tempos em que a Globo mandava e desmandava neste país.

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